Retrato de Katherine Mansfield

“Quantas mulheres em 1908 estariam preparadas para deixar uma família neozelandesa próspera de classe média, atravessar quase vinte mil quilômetros até o outro lado do mundo e levar uma vida boêmia em Londres por acreditarem na própria capacidade de criar arte? Quantas mulheres teriam tido essa fé em si próprias, para começar — quantas teriam tido essa coragem?”

Cherry Hankin — biógrafa de K. Mansfield

“A Portrait of Katherine Mansfield” é um dos raros materiais em vídeo sobre K. Mansfield. O documentário, feito em 1986, fala de alguns aspectos de sua vida pessoal, de sua escrita, dos tratamentos de saúde e da morte na França em 1923. Apresentado pela atriz inglesa Catherine Wilkin, conta com depoimentos das biógrafas Cherry Hankin e Claire Tomalin, além de Ida Baker, amiga íntima de Mansfield, conhecida como LM. Os depoimentos de Ida foram colhidos em 1974.

Assista (áudio em inglês, sem legendas):

O documentário também está disponível no site da NZ On Screen:

http://www.nzonscreen.com/title/a-portrait-of-katherine-mansfield-1986

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Escrever

A escritora canadense Alison MacLeod comenta alguns aspectos da vida e da obra de Mansfield. Bem legais alguns trechos que ela traz das cartas e dos diários sobre o ato de escrever. Não consegui localizar de onde é o primeiro deles:

Não há sentimento que se compare à alegria de escrever e terminar uma história. Não dormi. Ei-la, nova e completa.

Não consigo andar. Fico deitada à sombra o dia todo, escrevo e leio, nada mais. O trabalho é a única coisa que nunca falha. Mesmo se as pessoas não gostarem das minhas histórias, não me importo. Talvez gostem um dia, ou talvez as histórias serão melhores. (Carta a Ottoline Morrell, maio de 1921)

Estou cansada das minhas histórias como pássaros criados em gaiolas. (Carta à prima Elizabeth von Arnim em 31 de dezembro de 1922, já esgotada por causa da tuberculose).

Obra de K. Mansfield

Os contos de Katherine Mansfield costumam ser divididos em cinco livros, três publicados em vida e dois póstumos:

— In a German Pension (1911)
— Bliss: and Other Stories (1920)
— The Garden Party: and Other Stories (1922)
— The Doves’ Nest: and Other Stories (1923) – póstumo
— Something Childish (1924) – póstumo

As obras póstumas foram organizadas pelo escritor inglês John Middleton Murry, viúvo de Mansfield. Além de organizar os dois volumes póstumos de contos, ele foi responsável pela publicação de alguns poemas de Mansfield em 1923, além de cartas, ensaios críticos e diários. Em 1930, Murry publicou The Aloe, inédito que deu origem ao famoso conto Prelude.

A mais recente edição das obras completas de Mansfield é composta de quatro volumes publicados pela Edinburgh University Press, da Universidade de Edimburgo, Escócia: dois dedicados à ficção, um dedicado aos poemas e ensaios críticos e um dedicado aos diários. Três volumes já foram publicados — o quarto, com os diários, está previsto para 2016. As edições são anotadas e contêm todos os escritos de Mansfield, incluindo quatro histórias inéditas descobertas recentemente.

collected edition 1        collected edition 2        collected edition 3

Para um levantamento exaustivo dos escritos de Katherine Mansfield, bem como de artigos e biografias, visite o site da Sociedade Katherine Mansfield.

Sobre este blog

Mansfield - França 1916
Katherine Mansfield na França, em 1916. Fotógrafo desconhecido. Arquivo da Biblioteca Nacional da Nova Zelândia.

Ninguém me apresentou Katherine Mansfield, uma de minhas escritoras prediletas desde sempre. Deparei-me ainda adolescente com dois volumes de sua obra em português, no início dos anos 1990, procurando algo para ler nas prateleiras de uma biblioteca pública. O primeiro foi “Felicidade”, em tradução de Érico Veríssimo, publicado pela Editora Globo em 1940. O segundo foi “A festa e outros contos”, em tradução de Julieta Cupertino, na época recém-lançado pela Revan em 1993. O exemplar era tão novinho que ainda guardava o cheiro das páginas intocadas. Fui o primeiro a levá-lo para casa.

Mansfield faleceu em 1923 aos 34 anos. Teve três livros de contos publicados em vida e dois póstumos, compilados pelo marido, totalizando 85 contos. Além desses textos, Mansfield escreveu ensaios críticos, poemas e esboços de romances, além de cartas e diários. A edição mais recente de sua obra completa, organizada por Gerri Kimber e Vincent O’Sullivan, foi dividida em quatro volumes, dois deles dedicados a todas as histórias — 220 no total, incluindo as primeiras redações escritas na escola e os contos e romances inacabados e/ou abandonados em vida.

O desejo de traduzir a obra de Mansfield não é novo — é tão antigo quanto a sensação de ler “Bliss” pela primeira vez, lá na adolescência. Sua realização, no entanto, começou a tomar forma depois que Rejane Dias, editora do Grupo Autêntica, abraçou com alegria o projeto de publicar os contos. Pretendemos lançá-los seguindo a mesma ordem em que foram publicados originalmente, e o primeiro volume abarcará os dois primeiros livros — In a German Pension, de 1911, e Bliss, de 1920.

Neste blog pretendo reunir informações sobre a vida e a obra de Mansfield, além de compartilhar descobertas feitas durante o processo de tradução.